História da ChinaHistória do comunismo

Guerra Civil Chinesa (1927-1949)

A Guerra Civil Chinesa foi um conflito prolongado que moldou a história da China no século XX. Esta guerra fratricida, que durou de 1927 a 1949, envolveu vários grupos e facções políticas lutando pelo controle do país, culminando na vitória do Partido Comunista Chinês (PCC) liderado por Mao Zedong e na fundação da República Popular da China.

Contexto histórico

Para entender as raízes da Guerra Civil Chinesa, é necessário voltar ao final do século XIX e início do século XX, quando a China estava passando por uma série de desafios. A decadente Dinastia Qing enfrentava crescente pressão interna e externa, com movimentos revolucionários e influência ocidental minando sua autoridade, o que culminou na Revolução Chinesa.

A Revolução Chinesa começou com a queda da Dinastia Qing em 1911 e a proclamação da República da China, liderada por Sun Yat-sen. No entanto, a nova república enfrentou instabilidade política, fragmentação e lutas internas, o que deu origem a diferentes facções políticas competindo pelo poder.

A Guerra Civil Chinesa foi uma das principais manifestações desse processo revolucionário. Ela opôs principalmente o Partido Nacionalista Chinês (Kuomintang ou KMT), liderado por Chiang Kai-shek, ao Partido Comunista Chinês (PCC), liderado por Mao Zedong. A guerra começou oficialmente em 1927, mas suas raízes podem ser rastreadas a eventos anteriores, como as tensões entre o KMT e o PCC durante a Primeira Frente Unida e a subsequente ruptura.

A guerra foi uma luta pela liderança e controle da China, com cada facção buscando impor sua visão de governo e desenvolvimento nacional. Enquanto o KMT defendia uma China republicana e nacionalista, os comunistas buscavam uma revolução socialista e a eliminação das desigualdades sociais.

Apesar de períodos de cooperação temporária durante a luta contra o Japão na Segunda Guerra Sino-japonesa, as hostilidades foram retomadas após o fim da guerra, levando a uma guerra civil prolongada e sangrenta.

Início da Guerra Civil Chinesa: O Massacre de Xangai (1927)

Inicialmente, o KMT, liderado por Sun Yat-sen, e o PCC, liderado por figuras como Mao Zedong, formaram uma aliança temporária conhecida como a Primeira Frente Unida para combater senhores da guerra regionais e a influência estrangeira. Embora cooperassem contra inimigos em comum, as diferenças ideológicas e políticas logo provocaram tensões.

Após a morte de Sun Yat-sen, o General Chiang Kai-shek, assumiu a liderança do KMT. Em abril de 1927, Chiang Kai-shek ordenou um ataque surpresa contra os comunistas em Xangai. Na época, os comunistas eram uma força poderosa na cidade, e o PCC havia estabelecido uma administração autônoma conhecida como “República Soviética de Jiangxi” em certas áreas.

O ataque do KMT em Xangai resultou em um verdadeiro massacre. Membros do PCC e seus simpatizantes foram brutalmente perseguidos, presos e executados em grande número. O conflito transformou a cidade em um campo de batalha sangrento, com violência, tortura e mortes indiscriminadas.

O Massacre de Xangai teve um impacto significativo na dinâmica da Guerra Civil Chinesa. Ele selou o destino da Primeira Frente Unida e intensificou a hostilidade entre KMT e PCC. A partir desse momento, a guerra assumiu uma dimensão mais sangrenta e sem quartel, com os dois lados competindo ferozmente pelo controle da China.

Expedição do Norte: Unificando a China sob a Bandeira do Kuomintang (1926-1928)

Em 1926, ele lançou a Expedição do Norte, um movimento militar cujo objetivo era unificar a China dividida em diferentes regiões controladas por senhores da guerra e facções rivais.

A campanha tinha como meta principal capturar Pequim, a capital da China à época, e depor o governo do senhor da guerra Zhang Zuolin. O KMT, juntamente com o recém-formado Exército Nacional Revolucionário, enfrentou várias batalhas contra forças militares regionais, buscando expandir seu controle por toda a China.

A Expedição do Norte foi bem-sucedida em muitos aspectos. O KMT conseguiu derrotar e forçar a rendição de vários senhores da guerra, gradualmente unificando grandes áreas do país sob seu domínio. Em junho de 1928, após a morte de Zhang Zuolin em uma explosão ferroviária, o KMT assumiu o controle de Pequim e estabeleceu uma nova capital em Nanjing.

No entanto, a unificação não foi completa, e nem todos os senhores da guerra foram completamente subjugados. A intensificação dos conflitos e o crescente poder do KMT também criaram tensões internas dentro do partido.

Embora a Expedição do Norte tenha alcançado alguns de seus objetivos, a unificação completa da China foi adiada. A Guerra Civil Chinesa continuou a se desenrolar, com os comunistas ganhando força ao longo dos anos e a luta pelo controle do país se tornando cada vez mais sangrenta e complexa.

A Longa Marcha (1934-1935)

A Longa Marcha foi uma jornada épica e heroica do Partido Comunista Chinês (PCC), que ocorreu entre 1934 e 1935. Esse evento desempenhou um papel crucial na sobrevivência e no fortalecimento do PCC, consolidando sua posição como uma das principais forças políticas na China e estabelecendo Mao Zedong como líder de destaque.

A Longa Marcha teve início após uma série de derrotas do PCC nas mãos do Kuomintang (KMT) durante a Guerra Civil Chinesa. Os comunistas foram cercados pelas forças do KMT e forçados a se retirar de suas bases em áreas urbanas e regiões mais desenvolvidas. A liderança do PCC, incluindo Mao Zedong, percebeu que a sobrevivência do partido estava em risco e decidiu realizar uma retirada estratégica para escapar do cerco inimigo.

Ao longo de quase um ano, os comunistas percorreram cerca de 12 mil quilômetros em terrenos montanhosos e hostis, atravessando rios, florestas e regiões pouco povoadas. A Longa Marcha foi uma jornada incrivelmente difícil e perigosa, marcada por privações, fome, doenças e confrontos com as forças do KMT e outros inimigos.

Durante a Longa Marcha, o PCC enfrentou inúmeros desafios, incluindo batalhas com senhores da guerra locais e dificuldades logísticas. Muitos combatentes e civis perderam suas vidas ao longo do caminho. No entanto, a determinação do partido em sobreviver e a liderança habilidosa de Mao Zedong ajudaram a manter a coesão e a unidade do grupo.

A Longa Marcha também permitiu que o PCC se aproximasse das massas rurais e dos camponeses, estabelecendo uma base de apoio popular mais ampla. Durante a marcha, os comunistas tiveram contato com aldeias remotas e comunidades agrícolas, ganhando simpatia e recrutas para suas fileiras. Isso foi fundamental para a força do PCC no futuro.

A jornada terminou em outubro de 1935, quando os comunistas chegaram à região de Shaanxi, no norte da China. Apesar das adversidades, a Longa Marcha foi uma vitória moral e política para o PCC, consolidando sua liderança e influência dentro do movimento revolucionário chinês.

O Incidente de Xi’an (1936)

O Incidente de Xi’an teve início quando Zhang Xueliang, conhecido como o “Jovem Senhor da Guerra”, e Yang Hucheng, outro general do KMT, prenderam Chiang Kai-shek após ele chegar em Xi’an para se encontrar com os líderes regionais. Zhang e Yang queriam forçar Chiang a unir forças com o PCC para lutar contra a ameaça japonesa em uma nova Frente Unida.

O sequestro de Chiang foi um momento dramático e surpreendente. No entanto, o incidente teve um efeito inesperado: em vez de forçar Chiang a cooperar com os comunistas, ele aumentou a divisão entre o KMT e o PCC. O próprio PCC condenou o sequestro e se distanciou do evento, o que resultou em um rompimento temporário na luta contra o Japão.

Após semanas de negociações tensas, Chiang Kai-shek foi libertado em troca de concordar em formar uma nova Frente Unida com o PCC contra o Japão. Essa aliança temporária foi anunciada em 24 de dezembro de 1936 e representou uma das fases mais notáveis da colaboração entre as duas facções.

A Segunda Frente Unida: A Aliança Temporária entre KMT e PCC Contra a Invasão Japonesa

O conflito com o Japão começou em julho de 1937, quando as forças japonesas lançaram uma invasão em grande escala na China. A invasão japonesa desencadeou uma guerra total, e o país foi devastado por intensos combates e atrocidades durante o período conhecido como a Segunda Guerra Sino-Japonesa.

Em meio à guerra comum, Chiang Kai-shek e o PCC perceberam que a unidade nacional era essencial para enfrentar a ameaça japonesa. Em dezembro de 1936, ocorreu o Incidente de Xi’an, quando Chiang foi aprisionado por forças do KMT lideradas por Zhang Xueliang, outro general importante do partido. Esse incidente forçou Chiang a aceitar a proposta do PCC para formar a Segunda Frente Unida contra o Japão.

Em 24 de dezembro de 1936, Chiang Kai-shek e Mao Zedong anunciaram a formação da Segunda Frente Unida, marcando uma aliança temporária entre os dois partidos em meio ao conflito com o Japão. O PCC concordou em colocar suas atividades revolucionárias em suspenso durante a guerra e cooperar militarmente com o KMT.

Essa aliança provou ser essencial para a resistência chinesa contra a invasão japonesa. As forças do KMT e do PCC lutaram juntas em várias frentes contra o exército japonês, ganhando importantes vitórias e travando uma guerra de guerrilhas contra as forças invasoras.

A Retomada da Guerra Civil Chinesa

Após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, a Guerra Civil Chinesa foi retomada com a intensificação das hostilidades entre o Kuomintang (KMT) e o Partido Comunista Chinês (PCC). A retomada do conflito ocorreu por uma combinação de fatores políticos, econômicos e ideológicos, além das profundas divisões entre as duas facções rivais.

Entre 1945 e 1946, a Guerra Civil Chinesa entrou em uma fase de transição após o fim da Segunda Guerra Mundial. Esse período foi caracterizado pela retomada das hostilidades entre o Kuomintang (KMT), liderado por Chiang Kai-shek, e o Partido Comunista Chinês (PCC), liderado por Mao Zedong. A guerra civil entrou em um novo estágio de intensificação enquanto as duas facções lutavam pelo controle da China.

A seguir estão alguns dos principais acontecimentos da Guerra Civil Chinesa durante esse período:

Reocupação de áreas pelo KMT: Após a retirada das forças japonesas, o KMT reocupou várias áreas que haviam sido anteriormente controladas pelo PCC durante a luta contra a ocupação japonesa. Isso resultou em confrontos entre as forças do KMT e do PCC à medida que tentavam expandir suas áreas de influência.

Tentativas de Diálogo: Durante esse período, houve algumas tentativas de diálogo entre o KMT e o PCC para alcançar uma solução pacífica. No entanto, as negociações não tiveram sucesso devido a profundas divergências ideológicas e políticas entre as duas facções.

Incidente de Siping: Em novembro de 1945, ocorreu o “Incidente de Siping”, uma das primeiras grandes batalhas após o fim da Segunda Guerra Mundial. As forças do KMT lançaram uma ofensiva contra a cidade de Siping, que estava sob controle do PCC. O PCC resistiu ferozmente, e a batalha resultou em pesadas baixas de ambos os lados.

Enfraquecimento do KMT: Durante esse período, o KMT enfrentou dificuldades financeiras e militares, enquanto o PCC aumentava sua influência em áreas rurais, ganhando o apoio das massas camponesas.

Início do Bloqueio de Comunicação: Em 1946, o KMT iniciou o bloqueio das comunicações entre áreas controladas pelo PCC e o restante da China, isolando os comunistas e dificultando sua capacidade de mobilização.

Esses eventos foram apenas o começo de uma fase mais intensa da Guerra Civil Chinesa, que continuou até 1949.

A Ofensiva Comunista (1947-1948)

A Ofensiva Comunista de 1947-1948 foi um período crucial durante a Guerra Civil Chinesa, marcado pelo aumento do poder e influência do Partido Comunista Chinês (PCC) na luta pelo controle da China. Esse momento foi um ponto de virada na guerra, pois o PCC lançou uma série de campanhas bem-sucedidas, consolidando seu poder e enfraquecendo significativamente o Kuomintang (KMT), liderado por Chiang Kai-shek.

Durante a Ofensiva Comunista, o PCC implementou reformas agrárias, redistribuindo terras dos proprietários para os camponeses e aumentando seu apoio entre as comunidades rurais. Essa abordagem política e social ressoou com a população rural, que representava a maioria da população chinesa e estava cansada de séculos de injustiça e exploração.

O PCC também teve sucesso em estabelecer bases de apoio em áreas remotas e montanhosas, onde as forças do KMT tinham dificuldades em alcançar. As táticas de guerrilha adotadas pelo PCC se mostraram eficazes, permitindo-lhes mobilizar rapidamente suas forças, lançar ataques surpresa e se esquivar das forças do KMT.

Um dos momentos decisivos durante a Ofensiva Comunista foi a Campanha de Huai-Hai, que ocorreu entre novembro de 1948 e janeiro de 1949. Essa campanha foi uma série de batalhas cruciais entre as forças do KMT e do PCC na região do rio Huai-Hai. O PCC emergiu vitorioso, derrotando as forças do KMT e consolidando ainda mais sua posição.

A vitória do PCC na Ofensiva Comunista teve um impacto profundo na Guerra Civil Chinesa. As forças do KMT estavam em retirada para o sul da China, enquanto o PCC ganhava território e apoio em várias regiões. O enfraquecimento do KMT e o fortalecimento do PCC durante a ofensiva alteraram significativamente o equilíbrio de poder na guerra.

Tomada de Pequim e a Queda do Kuomintang (KMT) (1949)

Em janeiro de 1949, as forças do PCC, lideradas por Liu Bocheng e Deng Xiaoping, cercaram a capital chinesa, Pequim, onde o KMT estava estabelecido. A tomada de Pequim foi resultado de uma série de campanhas militares bem-sucedidas do PCC em todo o país, que enfraqueceram a posição do KMT e consolidaram o poder comunista em várias regiões.

A queda de Pequim representou um golpe devastador para o KMT e uma vitória estratégica para o PCC. As forças do KMT, lideradas por Chiang Kai-shek, foram derrotadas e forçadas a abandonar a cidade. Isso marcou a perda do controle da capital chinesa pelo KMT, enfraquecendo ainda mais sua autoridade e capacidade de governar.

A vitória do PCC em Pequim e em outras partes do país levou a uma série de rendições e deserções de forças do KMT, enfraquecendo ainda mais sua posição militar e política.

Retirada do Kuomintang (KMT) para Taiwan

Após a tomada de Pequim pelo Partido Comunista Chinês (PCC) em janeiro de 1949 e o subsequente avanço das forças comunistas em várias partes da China, o Kuomintang (KMT), liderado por Chiang Kai-shek, enfrentou uma série de derrotas militares e políticas. O avanço implacável do PCC levou o KMT a tomar uma decisão drástica – retirar-se para a ilha de Taiwan.

A retirada do KMT para Taiwan começou em 1949 e foi uma resposta à situação desfavorável em várias frentes. A ilha de Taiwan, localizada ao largo da costa sudeste da China continental, foi escolhida como o último bastião do KMT, um lugar de refúgio e uma base para continuar a luta contra os comunistas. Em 10 de dezembro de 1949, Chiang Kai-shek declarou Taipei, a capital de Taiwan, como a nova capital da República da China.

A retirada do KMT para Taiwan trouxe consigo uma mudança significativa no cenário político chinês. Enquanto a República Popular da China emergia como uma potência socialista no cenário mundial, a ROC em Taiwan desenvolvia sua própria identidade política e buscava legitimidade em meio à crescente pressão diplomática internacional.

Em Taiwan, o KMT construiu uma economia robusta e moderna, e a ilha se tornou um exemplo de desenvolvimento econômico para o mundo. Com o tempo, o regime de Taiwan também passou por mudanças políticas, evoluindo para uma democracia multipartidária na década de 1980.

A retirada do KMT para Taiwan marcou um capítulo crucial na história da Guerra Civil Chinesa e deixou um legado complexo nas relações entre a China continental e a ilha. Até os dias atuais, as tensões entre a República Popular da China e a República da China em Taiwan continuam a influenciar a política regional e global.

Proclamação da República Popular da China: O Nascimento de uma Nova Ordem Política e Social

Em 1º de outubro de 1949, a Praça Tiananmen, em Pequim, testemunhou um evento histórico que mudaria para sempre o curso da história da China – a proclamação da República Popular da China (RPC). O líder do Partido Comunista Chinês (PCC), Mao Zedong, proclamou solenemente a fundação da nova nação, marcando o fim da Guerra Civil Chinesa e o início de uma nova ordem política e social na China.

A proclamação da RPC trouxe consigo profundas mudanças para a China. O PCC estabeleceu um governo socialista unificado, com o objetivo de erradicar as desigualdades sociais e econômicas e alcançar a libertação de toda a população chinesa. As políticas do governo comunista incluíam a coletivização da agricultura, que gerou uma tragédia conhecida como “a grande fome” e a nacionalização da indústria.

Fernando Rocha

Fernando Rocha, formado em Direito pela PUC/RS e apaixonado por história, é o autor e criador deste site dedicado a explorar e compartilhar os fascinantes acontecimentos do passado. Ele se dedica a pesquisar e escrever sobre uma ampla gama de tópicos históricos, desde eventos políticos e culturais até figuras influentes que moldaram o curso da humanidade."

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *