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Buchenwald e a visita forçada ao inferno

O campo de concentração de Buchenwald foi o destino final de cerca de 56 mil prisioneiros que perderam a vida no local, além de ser o lar de Nazistas notórios, como o primeiro administrator do campo Karl Otto Koch e sua esposa, uma das mulheres mais cruéis da história – Ilse Koch, chamada de A Bruxa de Buchenwald.

Foram explorados e torturados em Buchenwald, cerca de 280 mil prisioneiros de 50 nacionalidades distintas, pessoas ingratas sob a ótica deturpada do regime nazista: presos políticos, judeus, ciganos, comunistas e homossexuais.

Horrorizados com a barbárie, soldados americanos sob as ordens do General  Dwight D. Eisenhower, ordenaram que cerca de 1.000 moradores de Weimar, incluindo mulheres, fossem obrigados a caminharem até a floresta de Ettersberg e visitar, de forma compulsória, o inferno de Buchenwald e testemunhassem as atrocidades cometidas no campo.

Estrutura de Buchenwald

Buchenwald estava situado na floresta Ettersberg, a cerca de 8 quilômetros da cidade de Weimar. Cidade orgulhosa, representante da mais alta cultura alemã, conhecida como terra natal do poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, além de berço da democracia alemã, com a República de Weimar de 1911.

Esteve em operação, a serviço dos nazistas, de 1937 a 1945, tendo recebido cerca de 280 mil prisioneiros, majoritariamente do sexo masculino, já que o campo foi exclusivo para homens até o final de 1943.

O campo de concentração de Buchenwald era administrado pela SS-Totenkopfverbände, subdivisão da Schutzstaffel (SS Nazista) responsável pelos campos de trabalho forçado e de extermínio e teve, como primeiro comandante, o Standartenführer (Coronel), Karl Otto Koch.

Criado como campo de trabalhos forçados e não como um campo de extermínio, Buchenwald era destinado, principalmente, a produção de armamentos, valendo-se do trabalho escravo dos prisioneiros que sofriam com uma carga de trabalho extenuante.

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Horrores de Buchenwald

Embora o campo de Buchenwald não tenha sido destinado ao extermínio em massa, como era o campo de Auschwitz-Birkenau, Sobibor ou Treblinka, muitos prisioneiros foram mortos (estima-se que 56 mil tenham perecido em Buchenwald.  As principais  causas de morte no campo era fome, doenças, experiências médicas ou  maus tratos e execuções capitaneadas pela SS alemã.

Uma das figuras mais terríveis e abomináveis do local era Ilse Koch, a Bruxa de Buchenwald. Esposa do comandante do campo e chefe da guarda feminina de Buchenwald, Ilse infernizava a vida dos detentos infligindo humilhações e torturas. Qualquer prisioneiro que ousasse dirigir o seu olhar para a bruxa, era logo açoitado.

Ilse koch tinha um fetiche doentio por pele humana tatuada. Ordenava que os prisioneiros se despissem e ao identificar uma tatuagem que lhe agradava, encaminhava a vítima para o médico do campo que extraia a pele, muitas vezes, com a vítima ainda viva. Após, Ilse confeccionava objetos com as peles, como capas de livros, luvas e abajures.

Coleção macabra de Ilse Koch, A Bruxa de Buchenwald
Coleção macabra de Ilse Koch, A Bruxa de Buchenwald

Além da crueldade dos guardas da SS e das condições insalubres do campo os prisioneiros corriam o risco de caírem nas mãos dos médicos nazistas que tentavam desenvolver a cura de doenças como a tifo, a febre tifóide, a cólera e a difteria, utilizando os prisioneiros como cobaias humanas, o que muitas vezes resultava na morte.

Carl Vaernet, um médico dinamarquês, em 1941 iniciou um programa que se propunha a “curar” o homossexualismo, utilizando, claro, as cobaias humanas de Buchenwald.

A libertação de Buchenwald

O radioamador polonês Gwidon Damazyn, preso em Buchenwald desde 1941, desenvolveu junto com um companheiro russo, Konstantin Ivanovich Leonov um pequeno radiotransmissor e enviou uma mensagem para o exército americano por meio de código morse:

“Aos Aliados. Ao exército do General Patton. Aqui é do Campo de Concentração Buchenwald. SOS. Precisamos de ajuda. Querem nos evacuar. A SS (comando nazista) quer nos destruir.”

Surpreendentemente os dois obtiveram sucesso e as tropas americanas receberam a mensagem e retornaram:

“KZ Bu. Aguentem firme. Correndo para ajudar vocês. Equipe do Terceiro Exército”.

Testemunhas dizem que a emoção foi tanta que Damazyn desmaiou de emoção quando recebeu a resposta do Terceiro Exército Americano. A notícia foi de tal impacto que os prisioneiros moribundos conseguiram reunir forças e organizaram uma rebelião matando os guardas que ainda não haviam abandonado o campo e, desta forma, assumindo o controle de Buchenwald.

Sob o comando do Capitão Frederic Keffer, os americanos chegaram em Buchenwald em 11 de abril de 1945, às 15h15, horário que está marcado até hoje no relógio do pórtico de entrada do campo de concentração.

Prisioneiros de Buchenwald
Prisioneiros de Buchenwald

Em 12 de abril de 1945, dia seguinte a libertação do campo, Dwight D. Eisenhower, Comandante das Forças Aliadas Supremas, visitou Ohdruf, um campo satélite do campo de concentração de Buchenwald. Em suas memórias ele escreveu:

“Nunca fui capaz de descrever os sentimentos que senti quando vi pela primeira vez um testemunho tão inegável da desumanidade dos nazistas e seu desafio inescrupuloso aos preceitos mais primitivos da humanidade. (…) Nada jamais me chocou como esta visão .”

Visita forçada ao inferno

Chocados e incrédulos com as atrocidades cometidas em Buchenwald, Eisenhower ordenou que pelo menos mil habitantes de Weimar, sendo metade mulheres, fossem obrigados a visitarem o campo de concentração e presenciarem, com seus próprios olhos, os horrores cometidos pelos nazistas. A medida, além da óbvia intenção de gerar um grande número de testemunhas tinha a intenção de desnazificar os alemães.

O prefeito de Weimar, anunciou:

“Você deve ser forte o suficiente para suportar o esforço da marcha e da visita (duração de cerca de 6 horas, cerca de 25 km de distância de marcha)”

Dentre os moradores de Weimar que foram obrigados a “visitar o inferno”, estava Edelgard Schlegelmilch, uma jovem de 17 anos que posteriormente descreveu a visita:

“o povo de Weimar passou o dia inteiro no Ettersberg. Por cerca de duas horas eles tiveram que esperar no calor escaldante no pátio do crematório, bem ao lado de um carro funerário. Era um fedor horrível (…) Tínhamos muito medo de nunca mais sair de lá. Que eles soltassem os prisioneiros e nos prendessem”.

Margarete Bourke-White, a primeira correspondente de guerra dos EUA,  escreveu mais tarde sobre sua experiência:

“Havia algo de irreal naquele dia de abril em Weimar (…). Eu ficava dizendo a mim mesma que só acreditaria na imagem indescritivelmente horrível no pátio à minha frente se pudesse ver minhas próprias fotos. Operando a câmera, foi quase um alívio, então uma frágil barreira surgiu entre mim e o terror pálido que eu enfrentei.

Bourke-White descreveu o ódio dos prisioneiros

“Quando os civis gritavam: ‘Não sabíamos de nada! Não sabíamos de nada!’, os ex-presidiários ficaram fora de si de raiva. ‘Você sabia’, gritaram. Nós dissemos a você, arriscando nossas vidas. Mas você não fez nada.'”

O reitor e superintendente de Weimar escreveu uma declaração que foi lida em22 de abril de 1945, em todas as igrejas protestantes em Weimar que culminou na frase: “Para que possamos confessar diante de Deus que não temos cumplicidade nessas abominações.

Fernando Rocha

Fernando Rocha, formado em Direito pela PUC/RS e apaixonado por história, é o autor e criador deste site dedicado a explorar e compartilhar os fascinantes acontecimentos do passado. Ele se dedica a pesquisar e escrever sobre uma ampla gama de tópicos históricos, desde eventos políticos e culturais até figuras influentes que moldaram o curso da humanidade."

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