BiografiasHistória da FrançaHistória MedievalMulheres na história

Joana D’Arc: A Camponesa Que Desafiou um Reino e Mudou a História

No turbulento século XV, em meio à devastação da Guerra dos Cem Anos, emergiu uma figura singular cuja breve, porém extraordinária trajetória, alteraria permanentemente o curso da história europeia. Joana d’Arc, uma jovem camponesa iletrada de Domrémy, transformou-se em símbolo de resistência francesa e catalisadora de uma reviravolta decisiva no mais longo conflito militar da história medieval. Este artigo examina a vida, as conquistas militares, o julgamento e o legado duradouro da Donzela de Orléans no contexto da Guerra dos Cem Anos.

Origens e Contexto Histórico da Guerra dos Cem Anos

Antes de compreendermos o papel de Joana d’Arc, é essencial contextualizar o conflito no qual ela se inseriu. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi uma série de conflitos entre os reinos da Inglaterra e da França, desencadeada por disputas dinásticas sobre o trono francês, questões territoriais complexas e rivalidades comerciais. Apesar do nome, o conflito estendeu-se por 116 anos, divididos em várias fases de combates intensos intercalados por períodos de trégua instável.

Em 1429, quando Joana emergiu no cenário político-militar, a França encontrava-se em situação desesperadora. Os ingleses, após a vitória esmagadora na Batalha de Azincourt (1415), controlavam vastas porções do território francês, incluindo Paris e a Normandia. O delfim Carlos (futuro Carlos VII) havia sido deserdado pelo Tratado de Troyes (1420), que estabelecia Henrique V da Inglaterra como herdeiro legítimo do trono francês. A legitimidade da linhagem Valois estava comprometida, e o moral francês encontrava-se no seu ponto mais baixo.

Os Primeiros Anos de Joana d’Arc

Nascida por volta de 1412 em Domrémy, uma pequena aldeia na fronteira oriental do reino francês, Joana era filha de Jacques d’Arc e Isabelle Romée, camponeses relativamente prósperos. Sua infância coincidiu com um dos períodos mais tumultuados da Guerra dos Cem Anos, com sua região natal frequentemente assolada por incursões militares.

Contrariando o estereótipo popular, evidências históricas sugerem que Joana não era completamente iletrada nem desprovida de conhecimentos políticos. Crescendo em uma comunidade fronteiriça politicamente consciente e leal à causa dos Valois, Joana desenvolveu desde cedo uma compreensão dos conflitos que dividiam o reino.

Aos 13 anos, conforme seus próprios testemunhos durante o posterior julgamento, Joana começou a ouvir “vozes” que identificava como sendo dos santos Miguel, Catarina e Margarida. Estas manifestações místicas, que combinariam elementos de devoção religiosa popular com uma profunda convicção patriótica, instruíram-na a libertar Orléans do cerco inglês e conduzir o delfim Carlos a Reims para sua coroação legítima.

A Natureza das Vozes de Joana d’Arc: Fé, Loucura ou Inspiração Divina?

As “vozes” que Joana d’Arc afirmava ouvir desde a sua juventude são um dos aspectos mais intrigantes e debatidos de sua história. Por volta dos 13 anos, ela começou a relatar aparições e mensagens de São Miguel Arcanjo, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia. Essas entidades celestiais, segundo seu testemunho, a instruíam em sua vida pessoal e, crucialmente, a convocavam para uma missão divina: libertar a França do domínio inglês e coroar o Delfim Carlos VII.

Joana demonstrava uma convicção inabalável na autenticidade dessas vozes, que para ela eram manifestações diretas da vontade de Deus. Essa crença a impulsionou a romper com as expectativas sociais de uma jovem camponesa, a buscar o apoio de figuras influentes e, finalmente, a liderar tropas francesas em batalhas decisivas durante a Guerra dos Cem Anos. Sua fé nas vozes era o motor de sua audácia e determinação, características que impressionaram seus contemporâneos, tanto aliados quanto inimigos.

Nos dias de hoje, a questão das vozes de Joana d’Arc é abordada sob diversas perspectivas. Para a Igreja Católica, que a canonizou como santa, as vozes são vistas como manifestações genuínas da graça divina, confirmando sua santidade e missão. Historiadores analisam os relatos dentro do contexto da época, considerando o fervor religioso, as crenças em intervenções divinas e a possível influência de fatores psicológicos ou até mesmo fisiológicos, como alucinações auditivas ligadas a condições médicas ou estresse extremo.

A ciência moderna oferece outras interpretações, explorando a possibilidade de experiências subjetivas intensas, estados alterados de consciência ou até mesmo quadros psiquiátricos. No entanto, dada a distância temporal e a natureza dos relatos, é impossível chegar a uma conclusão científica definitiva. Independentemente da explicação, as “vozes” desempenharam um papel central na vida e no legado de Joana d’Arc, moldando sua identidade como figura histórica e religiosa singular, cuja história continua a fascinar e inspirar diferentes interpretações.

A Ascensão Militar de Joana d’Arc

O Encontro com o Delfim

Em fevereiro de 1429, após uma jornada perigosa através de território hostil, Joana chegou a Chinon, onde a corte do delfim estava instalada. O encontro entre a jovem camponesa e o futuro rei está envolto em lendas, incluindo a famosa história de que Joana teria identificado Carlos disfarçado entre seus cortesãos.

O que se sabe com certeza é que, após interrogatórios extensos por teólogos em Poitiers para verificar a ortodoxia de suas crenças e a autenticidade de sua missão divina, Joana conquistou a confiança do hesitante delfim. Este fato extraordinário – uma adolescente camponesa ganhando influência em uma corte sofisticada dominada por intrigas aristocráticas – demonstra não apenas seu carisma excepcional, mas também o desespero da situação francesa que demandava soluções não convencionais.

O Cerco de Orléans

O primeiro e mais célebre triunfo militar associado a Joana d’Arc foi o levantamento do cerco de Orléans. Esta cidade estratégica no Loire estava sob bloqueio inglês desde outubro de 1428. Sua queda teria aberto caminho para a conquista do sul da França, potencialmente selando a vitória inglesa definitiva.

Joana D'Arc entra em Orleães, por Jean-Jacques Scherrer (de 1887, no Musée des Beaux-Arts d'Orléans)
Joana D’Arc entra em Orleães, por Jean-Jacques Scherrer (de 1887, no Musée des Beaux-Arts d’Orléans)

Em 29 de abril de 1429, Joana chegou a Orléans usando armadura completa e portando um estandarte branco. Sua presença transformou radicalmente o moral das tropas francesas. Embora debates historiográficos persistam sobre seu exato papel tático – alguns historiadores enfatizam sua função primariamente simbólica, enquanto outros destacam sua participação direta em decisões militares – o impacto de sua liderança é incontestável.

Em apenas nove dias após sua chegada, os ingleses abandonaram o cerco em 8 de maio, data que continua sendo celebrada anualmente em Orléans. Esta vitória surpreendente iniciou uma reviravolta dramática na guerra. Entre maio e julho de 1429, Joana liderou uma série de vitórias na chamada “Campanha do Loire”, libertando cidades como Jargeau, Meung-sur-Loire e Beaugency da ocupação inglesa.

Leia mais sobre História Medieval

Leia mais sobre a História da França

Leia mais sobre Mulheres na História

A Consagração em Reims

Seguindo as instruções de suas “vozes”, Joana persuadiu o delfim a marchar até Reims, cidade tradicionalmente associada à coroação dos reis franceses. O trajeto atravessava território nominalmente controlado pelos ingleses ou seus aliados borgonheses, mas a campanha avançou com surpreendente facilidade, demonstrando a crescente popularidade da causa francesa.

Coroação de Carlos VII em Reims.
Coroação de Carlos VII em Reims.

Em 17 de julho de 1429, Carlos VII foi finalmente coroado na Catedral de Reims, com Joana ocupando posição de honra na cerimônia. Este evento teve importância simbólica e política incalculável, fortalecendo dramaticamente a legitimidade da dinastia Valois em um momento em que a autoridade real havia sido profundamente comprometida.

Reveses e Captura

Após a coroação em Reims, a trajetória meteórica de Joana começou a enfrentar obstáculos. Uma tentativa malsucedida de recapturar Paris em setembro de 1429 marcou seu primeiro grande revés militar. A nobreza francesa, inicialmente impressionada com seus sucessos, gradualmente começou a ressentir-se da influência de uma plebeia sobre o rei. O próprio Carlos VII, tendo alcançado a legitimação de sua coroa, mostrou-se cada vez mais ambivalente em seu apoio à Donzela.

Em maio de 1430, durante operações militares próximas a Compiègne, Joana foi capturada por tropas borgonhesas, aliadas dos ingleses. Carlos VII, por razões ainda debatidas pelos historiadores, não fez esforços significativos para negociar seu resgate – uma omissão notável considerando seus serviços anteriores à coroa.

O Julgamento de Joana d’Arc

Os borgonheses venderam Joana aos ingleses por 10.000 livras, uma soma substancial que indica o valor propagandístico e estratégico atribuído à sua captura. O objetivo inglês era claro: desacreditar Joana como herética, minando assim indiretamente a legitimidade da coroação de Carlos VII que ela havia possibilitado.

Em janeiro de 1431, iniciou-se em Rouen um elaborado julgamento eclesiástico presidido por Pierre Cauchon, bispo de Beauvais e notório simpatizante da causa anglo-borgonhesa. Tecnicamente um tribunal da Inquisição, o processo contra Joana foi manipulado por considerações políticas transparentes.

As transcrições do julgamento, preservadas com excepcional detalhe, revelam tanto a engenhosidade dos interrogadores quanto a notável presença de espírito de Joana. Enfrentando questões teológicas complexas destinadas a expor sua suposta heresia, a jovem iletrada frequentemente confundia seus interrogadores com respostas perspicazes que evitavam as armadilhas preparadas.

As principais acusações contra Joana incluíam:

  1. Travestismo: Seu hábito de vestir roupas masculinas, particularmente armadura militar, era considerado uma violação da lei bíblica.
  2. Heresia: Sua alegação de comunicação direta com santos, contornando a mediação clerical, ameaçava a autoridade eclesiástica.
  3. Feitiçaria: Seus sucessos militares extraordinários eram atribuídos a poderes demoníacos.
Joana d'Arc retratada momentos antes de ser queimada na fogueira em 30 de maio de 1431, numa pintura por Hermann Stilke, feita no século XIX.
Joana d’Arc retratada momentos antes de ser queimada na fogueira em 30 de maio de 1431, numa pintura por Hermann Stilke, feita no século XIX.

Após meses de interrogatórios exaustivos e pressão psicológica intensa, Joana inicialmente assinou uma abjuração. Entretanto, dias depois, ela retratou-se, reassumindo trajes masculinos (possivelmente como proteção contra abusos na prisão) e reafirmando a autenticidade de suas visões.

Esta retratação selou seu destino. Em 30 de maio de 1431, Joana d’Arc foi queimada viva na praça do mercado de Rouen como herética relapsa. Testemunhas relatam que ela morreu clamando o nome de Jesus e mantendo firmemente sua convicção na autenticidade de sua missão divina.

Reabilitação e Legado

Vinte e cinco anos após sua execução, com a situação política dramaticamente alterada e os franceses reconquistando territórios perdidos, Carlos VII ordenou um processo de revisão do julgamento de Joana. O chamado “Processo de Reabilitação” (1455-1456) anulou formalmente a condenação anterior, declarando Joana inocente das acusações de heresia.

A importância militar de Joana d’Arc reside não tanto em inovações táticas ou estratégicas, mas em sua capacidade de revitalizar o moral francês em um momento crítico. Sua breve carreira militar coincidiu com uma inflexão decisiva na Guerra dos Cem Anos, quando a momentum começou a favorecer consistentemente os franceses pela primeira vez em décadas.

Após sua morte, o processo de recuperação territorial francês continuou, culminando com a expulsão virtual dos ingleses do continente (exceto Calais) em 1453, marcando o fim convencional da Guerra dos Cem Anos. A “narrativa Joana” – de inspiração divina, traição, martírio e subsequente reabilitação – forneceu um poderoso mito unificador para a emergente identidade nacional francesa.

Joana d’Arc na Historiografia

A figura de Joana d’Arc tem sido constantemente reinterpretada através dos séculos, refletindo as preocupações e valores de cada era:

  • No Renascimento: Foi principalmente vista como uma anomalia embaraçosa, uma intrusão do sobrenatural medieval na emergente racionalidade renascentista.
  • No Iluminismo: Voltaire e outros a retrataram como vítima do fanatismo religioso e da superstição.
  • No Romantismo do século XIX: Foi transformada em ícone nacionalista, particularmente após a humilhação francesa na Guerra Franco-Prussiana.
  • No século XX: Historiadores como Régine Pernoud buscaram uma abordagem mais baseada em evidências documentais, enquanto estudos feministas exploraram as dimensões de gênero de sua trajetória.

Análises historiográficas modernas tendem a enfatizar a extraordinária agência demonstrada por Joana em um sistema social e político que oferecia mínimas oportunidades para mulheres, especialmente de origem plebeia. Sua habilidade de navegar estruturas de poder eclesiásticas e aristocráticas, mesmo que temporariamente, representa um caso excepcional na história medieval.

Joana d’Arc na Cultura Pop

A história fascinante de Joana d’Arc tem inspirado inúmeras representações na cultura popular, tornando-se uma das figuras históricas medievais mais retratadas nas artes. Sua trajetória dramática, combinando elementos de fé profunda, heroísmo militar e martírio trágico, continua a fascinar criadores e audiências em todo o mundo.

No Cinema

A Donzela de Orléans tem sido tema de mais de cinquenta produções cinematográficas desde os primórdios da sétima arte. Entre as adaptações mais notáveis estão:

  • “A Paixão de Joana d’Arc” (1928): Dirigido por Carl Theodor Dreyer, este filme mudo expressionista é considerado uma obra-prima do cinema mundial. Centrado nos julgamentos e execução de Joana, destaca-se pela marcante interpretação de Renée Jeanne Falconetti e pelos inovadores close-ups que capturam a intensidade emocional do martírio. 
  • “Joana d’Arc” (1948): Estrelado por Ingrid Bergman e dirigido por Victor Fleming, este épico de Hollywood apresenta uma abordagem mais glamourizada, embora historicamente imprecisa, da trajetória de Joana. 
  • “O Processo de Joana d’Arc” (1962): O diretor Robert Bresson ofereceu uma interpretação minimalista e austera, baseando-se rigorosamente nas transcrições históricas do julgamento. 
  • “Joana, a Virgem” (1999): Dirigido por Luc Besson e estrelado por Milla Jovovich, este filme enfatiza os aspectos militares e as batalhas, apresentando uma Joana mais guerreira e atormentada por visões intensas. 
  • “Joana d’Arc de Batalha” (2019): Uma produção francesa dirigida por Bruno Dumont que oferece uma interpretação mais psicológica e menos convencional da história.

 

Na Televisão

Joana também aparece frequentemente em produções televisivas, incluindo:

  • “Joana d’Arc” (1999): Minissérie estrelada por Leelee Sobieski que recebeu diversas indicações ao Emmy. 
  • “Joana d’Arc: O Poder e a Inocência” (2013): Série documental da BBC que combina reconstruções históricas com análises acadêmicas. 
  • “Fate/Grand Order” e “Fate/Apocrypha”: Séries de anime japonês que reinterpretam Joana como uma personagem heroica com poderes sobrenaturais, demonstrando o alcance global de sua lenda.

 

Na Literatura

A bibliografia sobre Joana é vasta e diversificada, incluindo tanto obras acadêmicas quanto ficcionais:

  • “Joana d’Arc” de Mark Twain (1896): Surpreendentemente, este romance histórico era considerado pelo autor como sua melhor obra. Twain passou doze anos pesquisando a vida de Joana, criando uma narrativa respeitosa e detalhada. 
  • “Santa Joana” de George Bernard Shaw (1923): Esta peça teatral, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, examina os conflitos entre idealismo religioso, pragmatismo político e instituições estabelecidas. 
  • “A Fogueira” de Valério Massimo Manfredi (2004): Romance histórico que reconstrói a vida de Joana com detalhes vívidos e rigor histórico. 
  • “O Livro de Joana” de Lidia Yuknavitch (2017): Uma reimaginação contemporânea e feminista que conecta a história de Joana a temas atuais.

 

Em Outros Meios

A influência cultural de Joana estende-se ainda a:

  • Música: Desde a ópera “Giovanna d’Arco” de Giuseppe Verdi (1845) até canções de Leonard Cohen (“Joan of Arc”) e Madonna (“Joan of Arc” no álbum “Rebel Heart”), passando pelo musical “Joan of Arc: Into the Fire” de David Byrne. 
  • Videogames: Aparece como personagem jogável em séries como “Civilization”, “Age of Empires” e “Assassin’s Creed”. 
  • Quadrinhos e Mangás: Diversas adaptações gráficas de sua vida foram publicadas, incluindo a aclamada história em quadrinhos “Jeanne d’Arc” de Yoshikazu Yasuhiko.

A diversidade dessas representações reflete a maleabilidade da figura histórica de Joana d’Arc, que tem sido reinterpretada para ressoar com preocupações contemporâneas em cada era. De símbolo religioso a ícone feminista, de heroína nacionalista a representante da resistência contra opressão, Joana continua sendo reinventada nas artes e na cultura popular, mantendo viva sua extraordinária história seis séculos após sua morte.

Canonização e Importância Cultural

Em 1920, quase cinco séculos após sua morte, Joana d’Arc foi canonizada pela Igreja Católica, culminando um longo processo de reabilitação religiosa. Como santa, ela ocupa uma posição única: simultaneamente mártir religiosa e heroína nacional secular, reinvindicada tanto por tradicionalistas católicos quanto por republicanos laicos franceses.

Estátua de bronze dourado por Emmanuel Frémiet (em 1874, no Place des Pyramides).
Estátua de bronze dourado por Emmanuel Frémiet (em 1874, no Place des Pyramides).

Sua vida inspirou incontáveis obras artísticas, de peças teatrais de Shakespeare e Bernard Shaw a óperas, filmes, pinturas e esculturas. Em 1920, o parlamento francês estabeleceu uma festa nacional em sua honra, celebrada anualmente em 30 de maio.

Conclusão

A trajetória de Joana d’Arc representa um dos mais extraordinários exemplos de impacto individual sobre eventos históricos de larga escala. Sua breve carreira de apenas dois anos (1429-1431) coincidiu com uma reviravolta decisiva na Guerra dos Cem Anos, catalisando a recuperação francesa que eventualmente resultaria na expulsão dos ingleses do continente.

Além de seu significado militar e político, Joana transcende seu contexto histórico como símbolo de resistência nacional, fé inabalável e determinação frente à adversidade. Sua história continua a fascinar não apenas como episódio crucial na longa Guerra dos Cem Anos, mas como narrativa universal de coragem e convicção.

Para historiadores, Joana d’Arc permanece um complexo objeto de estudo, situado na interseção entre história militar, religiosa, política e cultural. Sua extraordinária trajetória – da obscuridade rural à influência na corte, do triunfo militar ao martírio, e finalmente à canonização – continua a oferecer fascinantes perspectivas sobre as dinâmicas sociais, políticas e culturais da França tardomedieval no contexto da Guerra dos Cem Anos.

E você, o que mais lhe impressiona na história de Joana d’Arc? Sua coragem militar, sua fé inabalável ou sua resistência durante o julgamento? Compartilhe sua opinião nos comentários abaixo e participe desta discussão histórica!

FAQ: Perguntas Frequentes Sobre Joana d’Arc

Qual era a idade de Joana d’Arc quando ela liderou os exércitos franceses?

Joana tinha apenas 17 anos quando assumiu a liderança militar em 1429. Este fato torna suas conquistas ainda mais extraordinárias, considerando que era extremamente incomum uma mulher, especialmente tão jovem e de origem camponesa, exercer comando militar na Europa medieval.

Joana d’Arc realmente lutou em batalhas ou apenas inspirou os soldados?

Embora seu papel inspiracional seja inegável, evidências históricas sugerem que Joana participou ativamente de operações militares. Relatos contemporâneos mencionam que ela frequentemente estava na linha de frente, foi ferida por uma flecha durante o cerco de Paris, e demonstrava conhecimento tático surpreendente. No entanto, seu maior valor militar residia indiscutivelmente em sua capacidade de elevar o moral das tropas francesas.

O que eram as “vozes” que Joana d’Arc dizia ouvir?

De acordo com seus próprios testemunhos durante o julgamento, Joana identificava suas “vozes” como sendo dos santos Miguel, Catarina de Alexandria e Margarida de Antioquia. Historiadores modernos têm oferecido diversas interpretações para estas experiências, desde explicações médicas (como epilepsia do lobo temporal) até análises psicológicas e culturais que contextualizam suas visões dentro da religiosidade popular medieval.

Por que Carlos VII não tentou salvar Joana d’Arc após sua captura?

A aparente inação de Carlos VII após a captura de Joana permanece uma das questões mais controversas de sua história. Várias explicações foram propostas: considerações diplomáticas sensíveis durante negociações com os borgonheses; a crescente influência de cortesãos que ressentiam o poder de Joana; preocupações teológicas sobre suas “vozes”; ou simplesmente um cálculo político frio indicando que sua utilidade estratégica havia diminuído após a coroação. O rei posteriormente apoiou o processo de reabilitação, possivelmente motivado por remorso ou necessidade política.

Como Joana d’Arc influenciou o curso da Guerra dos Cem Anos?

Embora sua carreira militar ativa tenha durado apenas cerca de um ano, Joana catalisou uma reviravolta psicológica e estratégica crucial. Suas vitórias quebraram o mito da invencibilidade inglesa estabelecido após Azincourt (1415), revitalizaram o moral francês, e legitimaram Carlos VII através da coroação em Reims. Após sua morte, o ímpeto que ela ajudou a criar continuou, com os franceses gradualmente reconquistando territórios até a expulsão quase completa dos ingleses em 1453.

Quando e por que Joana d’Arc foi canonizada como santa?

Joana foi beatificada em 1909 e canonizada em 16 de maio de 1920 pelo Papa Bento XV. Sua canonização ocorreu em um contexto histórico significativo: logo após a Primeira Guerra Mundial, quando a França buscava símbolos nacionais unificadores. O longo processo de reconhecimento de sua santidade (quase 500 anos após sua morte) reflete tanto complexidades teológicas quanto considerações políticas na relação entre a França e o Vaticano.

Qual é o significado do estandarte de Joana d’Arc?

Joana carregava um estandarte branco decorado com imagens de Jesus Cristo entronizado entre anjos e as inscrições “Jhesus Maria”. Ela frequentemente afirmava preferir carregar seu estandarte à sua espada, declarando que “nunca matou ninguém”. O estandarte tinha tanto significado religioso quanto militar, servindo como ponto de encontro para as tropas e símbolo da autoridade divina que ela alegava representar.

Existem documentos históricos autênticos sobre Joana d’Arc?

Sim, Joana d’Arc é uma das figuras medievais melhor documentadas. As transcrições de seus dois julgamentos (condenação e reabilitação) preservam seus próprios testemunhos e depoimentos de dezenas de contemporâneos. Além disso, sobrevivem numerosas cartas ditadas por ela, registros administrativos, crônicas contemporâneas e correspondência diplomática mencionando suas atividades. Esta riqueza documental é excepcional para uma figura não-aristocrática do século XV.

Como era a aparência física de Joana d’Arc?

Não existem retratos contemporâneos confirmados de Joana, já que as primeiras representações artísticas surgiram após sua morte. De acordo com descrições de testemunhas em seus julgamentos, ela era de estatura média, robusta e com cabelos escuros cortados curtos no estilo masculino. Várias pessoas que a conheceram mencionaram sua aparência vigorosa e atlética, adequada às exigências físicas da vida militar.

Qual é a importância de Joana d’Arc para a identidade nacional francesa?

Joana d’Arc ocupa uma posição única como símbolo nacional francês, sendo uma das poucas figuras históricas capaz de transcender divisões políticas. Tanto a esquerda quanto a direita política francesa, monarquistas e republicanos, católicos devotos e secularistas têm reivindicado seu legado, interpretando diferentes aspectos de sua história para apoiar suas respectivas visões da identidade francesa. Esta maleabilidade simbólica explica parcialmente sua persistente relevância cultural e política.

Fernando Rocha

Fernando Rocha, formado em Direito pela PUC/RS e apaixonado por história, é o autor e criador deste site dedicado a explorar e compartilhar os fascinantes acontecimentos do passado. Ele se dedica a pesquisar e escrever sobre uma ampla gama de tópicos históricos, desde eventos políticos e culturais até figuras influentes que moldaram o curso da humanidade."

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *